domingo, 28 de outubro de 2012

     Como é loucura a vida! Ainda bem que tenho a música ( a Musa). O mundo inspira e expira, a marchar sobre as pedras do planta, como um inferno. Como disse Lispector, o mundo todo tem a força do Inferno. O mundo todo tem a beleza de um paraíso intocado, duramente exótico e perdido, digo também.

     Ainda não nos adaptamos à nova casa. Até comentei com minha mãe que a rua onde atualmente moramos parece ser retirada d'um dos romances do E. A. Poe, onde há sempre um assassino a esperar pela presa. Tudo tem um aspecto tão "macabroso", como diria um velho amigo. "Macabroso" é o resultado da junção de "macabro" com "tenebroso".

     Agora, além de "Flor de Maracujá", "Abidú", "Pequeno Príncipe", "Diamante", também sou um "Anjinho de Ébano". Só mais um apelido carinhoso e viro água.

     Pretendia passar o dia estudando música, mas tudo muda com visitas. Gostaria de estar numa praia deserta com meu violino. Eu poderia, mas não fiz isso a tempo. Arrependo-me, pois poderia estar na casa veranil da família estudando meu violino.
     Sobre todas as cousas e sobre tudo o que está a ocorrer nesse domingo, estudarei minha música. E falando nela...

     Posto uma música que diz dos meus sentimentos de já. Émilie Simon:

sábado, 27 de outubro de 2012

Fluxo I

     Eu sei. Sou um ser que sumiu da "Blogsville" agora. Estou atrasado nos comentários e leituras  dos blogues que costumo ler.
      Após a mudança de residência do dia 15, fiquei desconectado da Rede. Não está sendo muito difícil. Ando a escrever cartas e a anotar em meu fichário para amainar a distância de cá.
      Eu vos responderei nos comentários, sem dúvida.

     Observo, só agora, que existem certas características em meu blogue que fazem parecer com a estrutura de uma música erudita comum  anterior ao século XIX.
     Eu começaria a explicar em grandes parágrafos todos os pormenores que fazem-me pensar assim e todos os pressupostos que levaram-me ao pensamento tal, além de descrever todas as características presentes no objeto principal do meu pensamento. Fá-lo-ia, pois agora controlo o que escrevo. É... mas a entrelinha ainda domina o que escrevo,  e tenho prazer nisso.

     Lembram do meu amor de "Te Mereço", de "Conversa Comigo Mesmo", da concha e de vários outros momentos de cá? Confessamos que nos amamos. Mas confessamos sem citar a palavra "amor", pois  ainda temos medo dela como em "O Segredo" de Clarice Lispector.
     Nessas confissões, a partir duma carta, nasceu a ideia de escrever um conto. Eu o chamei de "Ar e Água". Há jardineiros, um esposo morto, uma viúva depressiva, viagens para a Itália e talvez ele tenha monges e o reencontro da felicidade após uma grande perda. Ele será dedicado para a pessoa que eu amo e só os indivíduos que verdadeiramente me conhecem saberão que ele é a maior declaração de amor que já fiz para alguém.
     Eu só fiz uma declaração de amor até hoje. Não, duas. A primeira ocorreu quando eu tinha dez anos. Envolveu rosas vermelhas, poema e a garota mais bela da sala que se parecia, segundo eu, com Kate Winslet. A segunda declaração só envolveu mãos e olhos negros e verdes. Parece pouco, mas foi uma relação intensa. Ela foi sensivelmente íntima. Ele era violinista e parecia um anjo. Eu segui em frente e ele ficou no curso de Engenharia com um grande armário e histórias para contar.
     De quando em quando encontro o violinista que se parece com um anjo. As mãos até já pediram algo, mas só o olhar tímido diz "Olá" na livraria quando fazemos desviar nossos olhos do livro que pretendemos comprar. Foram bons tempos. Ainda bem que os vivi. Aí sobra a nostalgia, é gostoso sentir ela.
     Doeu após retirar de mim, como se tira víceras de um leão vivo e pulsante, os sentimentos que por ele possuía. Apesar de tudo, não acreditei que, como o despertar de um sonho ameaçador pela luz matinal do sol, eu pudesse superar tudo tão rapidamente. Superei, bravamente.
    
...

O primeiro fluxo para. O primeiro fluxo pára. Parei de pensar — mentira! —.

--------------------------------------------------------------

...

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Michael Nyman Novamente e Clarice Lispector

     Alguns dias atrás, estive a postar por cá algo do compositor norte-americano Michael Nyman. O poste é o seguinte, aos dememoriados como eu: http://reflectereadhominus.blogspot.com.br/2012/10/correios-eletronicos-michael-nyman-e.html .
     Nos comentários, a Margot mostrou-se ansiar por um outro disco dele. Como não consegui outro meio de contato com ela, decidi que postaria Ancient Memories para quem deseja apreciar mais dele. Cá vai o endereço para que possas descarregá-lo no computador: http://www.mediafire.com/?uxvuoz5vpbwbrd8

     Prometi-vos postar minhas seleções de crônicas e relatos de Clarice Lispector do Livro "Para Não Esquecer". Hoje teremos "O Segredo", "Mas Já Que Se Há de Escrever..." e "A Ceia Divina". Ei-los:

O Segredo

     Há uma palavra que pertence a um reino que me deixa muda de horror. Não espantes o nosso mundo, não empurres com a palavra incauta o nosso barco para sempre ao mar. Temo que depois da palavra tocada fiquemos puros demais. Que faríamos de nossa vida pura? Deixa o céu à esperança apenas, com os dedos trêmulos cerro os teus lábios, não a digas. Há tanto tempo eu de medo a escondo que esqueci que a desconheço, e dela fiz o meu segredo mortal.

Mas Já Que Se Há de Escrever

Mas já que se há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as estrelinhas.

A Ceia Divina

Laranja na Mesa. Bendita a árvore que te pariu.

     "O Segredo" trata de amor e medo, dois sentimentos muito presentes nos dias anteriores e bem expressados em meus outros postes. "Mas Que Se Há de Escrever" tem minha cara nele. Eu amo laranjas grandes e muito laranjas.  Gosto de me sentir comendo o sol quando as degusto, principalmente quando é uma matina de domingo primaveril e ensolarado. Entretanto, eu amo uvas. Uvas de todos os gêneros, eu as amo.

domingo, 14 de outubro de 2012

     Que vizinhos deveras festeiros! Quanto ruído! Gostaria de estar a estudar música, mas então tive uma ideia: tentar entender minha caligrafia de manuscritos antigos e passá-los para a máquina.

     Eu devo ter falado algum dia que estou a compilar meus escritos e a produzir mais deles para que no próximo ano consiga publicá-los. Eu sonho!
     Esse sonho começou quando minha professora de língua portuguesa disse que eu poderia ser o membro mais novo da Academia Cabense de Letras.

     De fato, divirto-me com títulos como "A História de Vêz" ou "Prólogo Soliloquial dum Educando Individual de Filosofia".

     Agora, encontrei algo. O nome do escrito é "Círculo: Título Realmente sem Título". Ele é uma daquelas coisas que se encontra em estupefação e descrença pelo que se vê. Indago-me: realmente escrevi isto? Céus! Eu tinha 14 anos quando o escrevi e estava no intervalo da escola. Falo um pouco da minha sexualidade no final, eu estava em conflito comigo mesmo. Foram bons tempos de grandes descobertas. Leiam-no:

Estou e não estou. Sub-existo, assim como meu espaço, que meu nada é. Tudo e nada importa numa lógica ilógica que, sobretudo, sempre é lógica. Mas a nossa lógica ocular não é capaz de entender. O quê? Sei lá! Minha escrita é inconsciente. Sei que sub-existo neste círculo, vácuo, espaço tão cheio, mas tão inóspito e..., digamos..., qual a palavra mesmo? Ah, "circuloso". Mas voltando ao assunto, vocês, celuloses, provavelmente observaram a minha distração de espírito. O que é espírito? Falo espírito de espírito mesmo e não espírito. Pare Inquisitividade! Desejo voltar ao assunto e ponto, mas não este ponto, esse.
      Agora é o verbo ser, pois a minha distração de espírito cansou-me — insisto —, Pare! O que eles pensarão? Bom, mas voltando ao assunto celulose. O que eu sou? Para resumir? Tudo bem. Estou no intervalo e quero aproveitar este breve espaço de tempo para ler. Mas quem quer saber, não é mesmo? Ah, quem me dera se ela soubesse: loucura consumível alheia. Ah, se elas soubessem, ou melhor, se eles soubessem que eu sou essa Sinfonia de Marcianos do Absoluto de Nada.

     

Mudança

     Foram nove anos. A mesma casa, as mesmas paredes. Tudo tão futurista, porém de cariz neoclássica. Os dramas, as felicidades, as lágrimas evaporadas naquele ambiente tão microscópico e quadricular como um caixa. Tudo isso que fora citado vem na mente dele como um sussurro já ecoado e morto pelos ares.

     Em meio ao caos ele escreve. Livros empoeirados sobre a mesa do computador e livros descolados de seus originais lugares como a sua memória ressuscitada de um deus egípcio tão empoeirado pela modernidade quanto seus livros.

     Ele deseja mesmo é estar dentro de uma das caixas e ser extraviado a algures — mas eu estou cá a escrever-vos.

     Um pesar. Um conflito. A vontade é de vociferar por silêncio. Mas eis que vem-lhe a ideia do paradoxo dessa atitude. Ele está perdido, e sem chances de encontro consigo mesmo. Por onde ele vá, está perdido. Ao menos quando ele está só, pois nesse momento ele se encontra como num choque — A vontade que sinto é de gritar por silêncio. É um paradoxo, eu sei. Por isso não o faço. Estou perdido. Estou nalgum lugar desse planeta. E que desastre será se eu não estiver nesse planeta. Essa última  ideia de modo algum pode ser fato consumado, pois eu tenho certeza que encontro-me comigo mesmo quando estou só —.

      Ele vai, mas não sorridente. Até faz sorrir, por educação  — porém, sinto-me deixando algo perdido dentro das paredes marcadas pelo silêncio e pelo grito do olhar da alma —.

     Um amor. Uma esperança. Um futuro. Feliz aqueles que aproveitam o instante, e que, portanto, tem a vivacidade de um rio.

     Não é só cólera. É melancolia o que ele "sinto". Distância de si...
  
     Agora ele percebe que está a abandonar uma nação que nunca fora sua, que nunca tornou-se parte integrante de seu ser, que nunca encarnou nele sem nunca pedir permissão ao encarnado; agora, só depois de nove anos — ou seria " só depois de dezesseis anos, já que, talvez, eu teria consciência de ser um sem-teto, um sem-casa, desde a tenra idade —. Quiçá, encontre a minha casa quando o Sol acabar, finalmente, com esse planeta, quando os meus últimos átomos espalhados pelos jardins, pelos solos e pelos outros animais do ecossistema sejam calcinados pela estrela que esquentou-me e movimentou a coisa que chamo de "eu". Encontrar-me-ei quando o "quando" se tornar, enfim, "quando passado".

— Foram dezesseis anos. Porém, só agora ele percebe que está a abandonar uma nação que lhe exilou. Sério, ainda bem que eu amo. Ainda bem que estou perdido e só, pois, de outro modo, não amaria. — Digo para mim mesmo pensando: " Foram nove anos... por isso eu escrevo"

P.S.: O blogue é todo piegas, mas esse foi o poste mais íntimo escrito por mim.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

"Os Espelhos", "Por Não Estarem Distraídos" e Memórias Delicadas

     Estou na Biblioteca do Estado de Pernambuco ou Biblioteca do Castelo Branco. O Wi-Fi é ótimo!
    Larguei, pois costuma-se largar cedo em semana de recuperação do que foi academicamente perdido pelos "perdidos academicamente", e estou aliviado por estar positivamente azul e atualizado em todas as disciplinas acabarei tendo sangue azul.
     Depois de escrever esse poste, estudarei um pouco de história e terminarei de compor algumas músicas.

     Como prometi no poste do vigésimo quarto dia de setembro,   estarei a postar as crônicas do penúltimo livro de Clarice Lispector lido este ano, "Para Não Esquecer". Esse livro de Clarice reúne crônicas, fragmentos e relatos escritos por ela.   
     Muitos escritos publicados ali são relatos e experiências do relacionamento com seus filhos ou podem ser a designação do mistério, do desconhecido e a exploração do cotidiano, que, nas mãos de Clarice, torna-se uma tragédia cósmica. Nesse livro, encontrei muita coisa já lida em "A Descoberta  do Mundo", livro integrante da inspiração desse blogue e digerido três vezes por mim.
      Selecionei 22 textos entre os mais de 110 contidos no livro. Ao decorrer dos postes, publicá-los-ei com pequenas resenhas ou sem pequenas resenhas.
      No dia em que fui inserido na cultura de nossa civilização, postei Futuro de Uma Delicadeza. Hoje, eu postarei Por Não Estarem Distrídos, que mostra bem a situação (expressada aqui) que deixava-me com medo de ter "ciência dita" do meu amor por alguém; e postarei Os Espelhos.

     Leiam os textos já citados e escritos por Clarice Lispector:

Os Espelhos


" O que é um espelho? Não existe a palavra espelho - só espelhos, pois um único é uma infinidade de espelhos. - Em algum lugar do mundo deve haver uma mina de espelhos? Não são precisos muitos para se ter a mina faiscante e sonambólica: bastam dois, e um reflete o reflexo do que o outro refletiu, num tremor que se transmite em mensagem intensa e insistente "ad infinitum", liquidez em que se pode mergulhar a mão fascinada e retirá-la escorrendo de reflexos, os reflexos dessa dura água. - O que é um espelho? Como a bola de cristal dos videntes, ele me arrasta para o vazio que no vidente é o seu campo de meditação, e em mim o campo de silêncios e silêncios. - Esse vazio cristalizado que tem dentro de si espaço para se ir para sempre em frente sem parar: pois espelho é o espaço mais fundo que existe. - E é coisa mágica: quem tem um pedaço quebrado já poderia ir com ele meditar no deserto. De onde também voltaria vazio, iluminado e translúcido, e com o mesmo silêncio vibrante de um espelho. - A sua forma não importa: nenhuma forma consegue circunscrevê-lo e alterá-lo, não existe espelho quadrangular ou circular: um pedaço mínimo é sempre o espelho todo: tira-se a sua moldura e ele cresce assim como água se derrama. - O que é um espelho? É o único material inventado que é natural. Quem olha um espelho conseguindo ao mesmo tempo isenção de si mesmo, quem consegue vê-lo sem se ver, quem entende que a sua profundidade é ele ser vazio, quem caminha para dentro de seu espaço transparente sem deixar nele o vestígio da própria imagem - então percebeu o seu mistério. Para isso há-de se surpreendê-lo sozinho, quando pendurado num quarto vazio, sem esquecer que a mais tênue agulha diante dele poderia transformá-lo em simples imagem de uma agulha.Devo ter precisado de minha própria delicadeza para não atravessá-lo com a própria imagem, pois espelho que eu me vejo sou eu, mas espelho vazio é que é espelho vivo. Só uma pessoa muito delicada pode entrar num quarto vazio onde há um espelho vazio, e com tal leveza, com tal ausência de si mesma, que a imagem não marca. Como prêmio, essa pessoa delicada terá então penetrado num dos segredos invioláveis das coisas: Vi o espelho propriamente dito.E descobri os enormes espaços gelados que ele tem em si, apenas interrompidos por um ou outro alto bloco de gelo. Em outro instante, este muito raro - e é preciso ficar de espreita dias e noites, em jejum de si mesmo, para poder captar esse instante - nesse instante consegui surpreender a sucessão de escuridões que há dentro dele. Depois, apenas com preto e branco, recapturei sua luminosidade arco-irisada e trêmula. Com o mesmo preto e branco recapturei também, num arrepio de frio, uma de suas verdades mais difíceis  o seu gélido silêncio sem cor. É preciso entender a violenta ausência de cor de um espelho para poder recriá-lo, assim como se recriasse a violenta ausência de gosto da água."

Por Não Estarem Distraído



     Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.

     Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque – a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras – e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.

     Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto.

     No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram.
Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios.
     Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."

     Este último texto lembra-me tantos momentos belos. Lembra-me o dia no qual voltamos, eu e meu amado amigo, duma palestra acerca de Música e Religiosidade.

     Foi um dos dias mais belos que já tive em sua companhia. Não pelos roteiros turísticos de Recife que recebem nossos pés diariamente, mas por vê-lo atencioso, ao meu lado, natural, por vê-lo almoçar comigo, por partilharmos vivências, por vê-lo sonolento a oscitar . Disse-me ele que "...passei a noite acordado. Eu fui ao cinema com minha irmã e voltamos tarde". Deu para perceber que eu também passei a noite acordado e como quis deixar claro o quão semelhantes somos, não deu?  A diferença é que passei a noite acordado por não conseguir esquecer que passaria todo o dia com alguém que fazia-me deixar intrigado, com alguém que fez-me ganhar a perna inútil que G. H. perdeu num momento de apreciação da êxtase d'outrem.

     Estava a ocorrer, no Marco Zero, um festival internacional de teatro de objetos. Fomos. Mas fomos com a esperança de ver Hermeto Pascoal de pertinho e num show com poucas pessoas após o encerramento das representações. Ele não poderia ficar, pois estaria tarde demais para ele voltar ao seu bairro. Eu ofereci táxi com minha companhia até a porta de sua casa. Mas ele disse "... minha mãe pediu para sair do centro às 21h e o show começa às 21h30min. É muito importante para mim, mas não sou como você que não tem horário para chegar." Como reposta, disse rindo e ironicamente que sou um ser emancipado.
     Só para ficarmos juntos mais tempo, tivemos a ideia de duma ida à Livraria Cultura do Shopping Paço Alfândega.

     Senti seu hálito doce. E desejei seu hálito no meu quarto, em qualquer lugar no mundo. Não desejei em mim, a esbarrar nos meus lábios. Desejei-o nos ares do meu quarto e desejei estar perto dele para sempre.
     Lemos algumas revistas. Ele leu artigos científicos sobre física quântica e eu li sobre civilizações pré-colombianas em revistas de história e arqueologia.
     Conversamos acerca da razão de existirmos; então vimos que já estava na hora de partir. Saímos à parada do autocarro, expressando em dizeres nossas elucubrações acerca da existência. Quando o vi sem mais a dizer, eu prometi que em cinco minutos escreveria algo sobre as razões da existência com duas das minhas três palavras preferidas, que são "cerne" e "sobrepujar". Já estávamos longe da Livraria quando eu pedi para que ele segurasse meu braço direito enquanto eu escrevia com a mão do braço esquerdo, pois haveria a possibilidade de beijos duros entre eu e o chão. Escrevi. Noutro dia, peguntei do destino daquele papel com minha caligrafia rabiscada. Ele disse que queimaria, mas decidiu primeiro pôr no computador e depois guardar a folha. Só agora, enquanto escrevo, é que observo que deveria perguntar o motivo do fogo com o papel.
     
     As pessoas passavam entre nós dois, agitadas, para ver Hermeto Pascoal. Então, tocamos e nos tocamos esmagados. Falávamos acerca de cousas quaisquer; ríamos. Decidimos apreciar a água negra do Rio Capibaribe. Gosto da "música da água".

     Acho que está na hora de parar. É demais para mim. Estava a suprimir muitos pormenores para mim mesmo, não por serem proibidos de publicações na Rede, mas por sentir demais enquanto escrevo. Suprimia detalhes pois ainda ( "ainda" é minha terceira palavra favorita, revelo) temo afogar-me em meus mergulhos no mar existencial onde eu encontrei meu Amado Amigo. Ele disse-me que um dia poderia me ensinar a nadar. Ele ama natação. Sou um tanto sedentário, mas sempre quis ter disposição para praticar esportes. Minha mãe diz que, na verdade, eu sempre quis alguém para praticar esportes comigo. De qualquer forma, nesses tempos de lições de natação, se eles existirem, já estarei nadando muito bem no meu mar existencial.
     Agora só posso dizer que o abracei na despedida; depois fui ao show de Hermeto Pascoal.

     Acho que, pelo o que eu escrevi por cá, vós pensais que o que escrevi nos parágrafos anteriores não possuem tanto a ver com "Por Não Estarem Distraídos" de Clarice Lispector. Só os detalhes suprimidos por mim, como no susto da súbita descoberta, de modo consciente, mostrariam as razões e justificativas das minhas lembranças associativas.

    Seu eu continuar lembrando assim, ninguém vai aguentar ler nada do que escrevo.

     Estou calmo, como recomendou o Cesinha. Se não estivesse assim, já teria gritado ao mundo o meu amor. Por estar calmo e por deixar ir-me navegando até a foz do Rio Capibaribe para que o nosso amor seja um rio fluindo e fluindo é que não estou a gritar o meu amor. Que correnteza!

     Hei-de postar algumas fotos dos lugares citados cá:

Ponte Maurício de Nassau, Recife  - PE. Por Francisco Edson.

Vista da Ponte Maurício de Nassau (primeiro plano) a partir da perspectiva do Velho Recife sobre a Livraria Cultura. Por Sério Menezes.
Interior do Shopping Paço Alfandêga, Recife - PE. Por Sério Menezes.

     Descarreguei um leitor de Feeds em meu computador. Agora: como tenho blogues para ler! Já gostava da "Blogsville", e gosto ainda mais agora que estou menos "tímido" por cá.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Cabo, a 9 de outubro de 2012. 1h43min AM.

     Todos os meus pensamentos estão quase que dominados por ele. Só penso nele.
     Vi suas fotografias antes de escrever cá. Alivio-me com elas, pois, além de meus pensamentos, elas são o único modo de estar mais perto dele atualmente.

     Penso constantemente no tom de voz no qual será dito "eu te amo" para ele. Penso no que ele está a fazer agora. Será que está lendo? Ou está a assistir um dos episódios de um dos seus seriados favoritos, o chamado Dexter? Está ele deitado na cama a pensar em mim? Disse-me ele que há uma janela em seu quarto por onde é possível ver a lua e as estrelas. Será que ele pensa em mim enquanto encanta-se com o céu? Será que ele está a beber água? Talvez ele simplesmente está virando-se na cama, suado e a sonhar. Com o quê? Será que ele imagina muitos acontecimentos e viagens que já planejamos fazer? Será que ele imagina os acontecimentos delicados entre nós? Será que todas as indicações dadas por ele acerca de seus sentimentos para mim como, por exemplo, uma mensagem dizendo que ainda sou apenas amigo dele, sou coisas da minha mente? Será que ele me ama? Qual o motivo que o faz não pronunciar as palavras reveladoras de segredos secretos? Espera por mim? Bem, eu já não aguento mais. Eu preciso dizer que o amo.

     Num correio eletrônico, disse para ele: "... considero-te uma pérola que encontrei entre as relutantes areias no fundo de meu extenso, profundo e tempestuoso mar existencial.
     Pérolas são preciosíssimas. E por-te dentro duma pérola é pouco, mas não é a hora de fundir átomos para criar estrelas. Elas são complexas para esse tempo entre nós. É melhor deixar o Universo nebuloso, por ora.

     Hoje fui para uma linda praia deserta — pretendo contar noutro poste acerca dessa ida para lá e dos idos tempos que passaram-se sem um poste por cá. Vi uma conchinha entre a areia molhada sob a espuma da água salgada. Pensei nele; depois pensei em presentá-lo com a conchinha. Um dia o presentarei com um ramalhete de rosas brancas (amamos rosas brancas) com muitas conchas.

     Agora, postarei as fotos da praia onde eu estive apenas cinco minutos, durante o ocaso, por causa da agenda e as fotos da conchinha sobre a minha mão tiradas nesse momento.

Praia do Paiva, Cabo de Santo Agostinho - PE. Foto retirada daqui.

Praia do Paiva, Cabo de Santo Agostinho - PE. Foto retirada daqui.

Praia do Paiva, Cabo de Santo Agostinho - PE. Foto retirada daqui.

Praia do Paiva, Cabo de Santo Agostinho - PE. Foto retirada daqui.



A conchinha que encontrei.

sábado, 6 de outubro de 2012

Gaston a citar d'Annunzio

"Acontecimentos mais ricos ocorrem em nós muito antes que a alma se aperceba dele. E, quando começamos a abrir os olhos para o visível, há muito já estamos aderentes ao invisível."


BACHELARD, Gaston A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria. Tradução: Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1998 (Tópicos) pp. 17-18

Dois mestres em duas páginas. Isso é demais para mim!

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Correios Eletrônicos, Michael Nyman e Gerald Jay Markoe

     Quinta hora do quarto dia de Outubro. Vou fazer um lanche, depois de ler um correio eletrônico. Eu o li já várias vezes. Não canso-me de lê-lo.
     Passei a noite estudando, ou melhor, o dia. Extasiava-me enquanto tocava escalas de três oitavas ao som da chuva noturna. Som de água caindo mais o som de meu violino só pode resultar num intenso orgasmo em mim, rsrs.

     Estou sem sono.

     Estava muito desanimado. Durante a vespertina do dia anterior, chorei ao abrir minha agenda de compromissos. Tudo lembrava-me a pessoa que há sete dias que sequer escuto a voz.

     À noite, tudo muda. Como não gosto de celulares, acabo perdendo-os. Nesse período do dia, achei o meu celular que estava perdido. Na tela inicial dele, pude notar que havia vinte e três chamadas não atendidas. Liguei para o número e soube que era o G., desesperado por não ter contato comigo a alguns dias.

     Conversamos e conversamos. Comentamos sobre a Lua. Vimos e nos encantamos juntos com um meteoro a queimar na atmosfera terrestre. Sentimos o encantamento um do outro apenas pela agitação e euforia da voz; depois falamos acerca da pessoa que não fazia mostrar-se existir a alguns sete dias. O G. demonstrou sentir minha aflição. Antes do fim da conversa, marcamos de assistir a uma récita, A Flauta Mágica de Mozart, no domingo. Fomos embora,  então, numa despedida calorosa e que parecia nunca acabar.

     Tudo muda. Até sinto-me um tanto mais animado. Sinto-me mais animado, apesar dos pesares. Quando isso acontece, seleciono umas músicas e as aprecio profundamente.

     Voltando ao correio eletrônico do primeiro parágrafo. Postarei um pequeno trecho que sempre entra em meus recentes e aflitos pensamentos:


"...a palavra é bruxaria nas ásperas mãos das pessoas. A abstração da palavra revela cruamente vergonhas celestiais e também traz maná dos céus aos famintos."

     Faz um bom tempo que gostaria de postar trecho d'outro correio eletrônico. Ocorreu que a pessoa que deveria lê-no nunca, de fato, o fez. Eu dediquei muitos minutos escrevendo-o. E então, para que ele não ficasse ao nada, decidi postá-lo cá.
     O trecho do correio trata de dicas musicais. Tais dicas, agora, hão de ser dadas a vós. Antes, desculpem-me pela marcação branca do texto e pelos possíveis erros que encontrarão no texto transcrito — eu nunca o li depois de escrito. Vejam:


"...

Doze dias depois retomo a escrita deste E-mail que estava em meus rascunhos.


Nas últimas duas semanas, venho apreciando dois discos que eu, sinceramente, gostaria de partilhar com você.  O primeiro disco trata-se de três quartetos para cordas do compositor, pianista, libretista, e musicologista contemporâneo-minimalista britânico Michael Nyman. Como a senhora deve saber, ele compôs muitas trilhas para filmes. Entre elas, está a trilha do filme Gattaca, por direção do cineasta zelandês Andrew Niccol, que trata duma sociedade num futuro não tão longínquo onde os seres humanos são escolhidos geneticamente em laboratórios e onde pessoas concebidas biologicamente são consideradas inválidas. O filme claramente demonstra uma preocupação com a eugenia e com o desenvolvimento tecnológico no campo da genética. É um ótimo filme de ficção-científica. Segundo Matthew Shorter, pianista e crítico musical da BBC (cujo microblogue eu sigo, @lifestooshorter), "this music is supple, brilliant and flawless" — "esta música é flexível, radiosa e sem defeitos", em tradução livre —.  O disco que tenho em mãos é uma interpretação  do Balanescu Quartet. Ele é um grupo musical vanguardista que interpreta compositores contemporâneos como Philip Glass. Eles são altamente recomendáveis.

Num website de hospedagem em linha de ficheiros eu postei o arquivo .rar do disco cujos faixas estão em formato .mp3. Descarregue-o e boas apreciações: http://www.mediafire.com/?ozfrdda649plg7c

O segundo disco é New Age ou quaisquer outras gêneros de nomeações que preferes adotar. O compositor é Gerald Jay Markoe. As composições em primeiras impressões são exóticas para a maioria das pessoas. 

Eu gosto de ficção-científica e sou cientificista. Gosto de investigar e analisar o Universo de um modo mais realista e racional possível. Também escrevo ficção-científica. E como todo amante desde gênero e da ciência, especialmente física e astronomia, sinto falta de relações entre as retratações artísticas e as atuais artes. O cinema está bem relacionado assim como a fotografia, o teatro, e a dança de um certo modo. As artes visuais como pintura, arquitetura e escultura estão bem relacionadas com a ficção-científica e até possui íntimas relações. Mas a música..., e a música erudita? Na música, vê-se poucas representações. As composições que possuem relações com este gênero geralmente não minimalistas ou doutros estilos contemporâneos. A música contemporânea não é tão popular quanto os outros estilos eruditos do barroco, clássico e romântico. A neurologia prova que a nossa consciência, centelha da condição humana, vive milésimos de segundos no passado (http://www.jornalciencia.com/saude/mente/1774-por-que-voce-provavelmente-nao-ira-sentir-a-sua-propria-morte-traumatica). E eu vejo isto nas artes e na música também. Os estilos artísticos de nosso século, especialmente os estilos musicais, estão presos no passado. Eles estão mortos para o tempo corrente. Como? Não se vê composições sobre planetas inspirados na ciência. Vê-se famosas as composições de G. Holst acerca dos planetas do nosso sistema solar que na verdade são inspiradas em astrologia e mitologia greco-romana.

Lá estão poucos compositores que fazem escrever sobre ciência de um sóbrio modo. Não se vê composições sobre civilizações extraterrestres, exoplanetas, física quântica e teorias vanguardistas como a da Energia Escura, Matéria Escura e as teorias de universos paralelos.

Entre tudo isto, está o Gerald Jay Markoe (http://userserve-ak.last.fm/serve/_/26711349/Gerald+Jay+Markoe+markoe.jpg). Compositor New Age que nasceu no Brooklyn - NY, onde também nasceu outro magno homem da humanidade, Carl Sagan. Ele descobriu a "astro music", cujos fundamentos musicais são baseados nas posições dos planetas do nosso sistema solar. Correntemente, está trabalhando num livro sobre o assunto e já publicou vários artigos e dá muitas palestras e concertos acerca da "astro music". Ele também criou sua própria companhia musical, AstroMusic, para gravar sua composições e trabalhos. Ele, sem dúvida alguma de minha parte, é conhecedor da Teoria dos Antigos Astronautas. Ele é um compositor constantemente conectado com o Cosmos, eu falo sob uma perspectiva científica e esotérica. Eu possuo apenas dois de seus vários discos, eles são: Meditation Music of Ancient Egypt e Ancient Cerimonies. 

O primeiro não busca reproduzir fielmente a música do Antigo Egito, mas produzir e criar novas composições a partir do que se tem registrado da música do Antigo Egito. 

Eu ainda não ouvi o segundo disco, então não posso falar sobre ele agora. Mas há outro disco que quero muito apreciar e não consegui encontrar lugar algum na internet, ou melhor, não consegui encontrar em nenhum dos sítios de países externos na internet. Titula-se o disco de "Music from the Pleiades". 

O título sugere sua característica mais notável, suas composições são inspiradas em supostos estilos musicais de civilizações extraterrestres da família das sete estrelas localizadas na constelação de Touro , 400 anos-luz distante da Terra, também muito conhecida como "The Pleiades"(http://www.nasa.gov/multimedia/imagegallery/image_feature_801.html). Eu nunca vi nada semelhante a isto. Então, se a senhora já ouviu falar em música inspirada em estilos musicais de civilizações extraterrestres pode me dizer pois estará retirando de mim esta minha pasma expressão que estou cá já. Dei uma olhada no sítio da Livraria Cultura e o encontrei para venda, acho que finalizarei esta história fazendo uma encomenda ou pedirei para uma amiga de minha mãe que trabalha nos Estados Unidos comprar mais em conta lá e trazer a mim em um feriado qualquer.

Adiante, eu postarei o disco abaixo. Podes abaixá-lo em seu computador e apreciá-lo. Boas apreciações: http://www.mediafire.com/?nnaa07382387q9t "

..."

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

     Descobri que gosto muito de estar só. Sinto-me melhor só. Sinto sem motivos.

     Estou doente e de licença médica, então passei o dia organizando minha vida. Estive organizando coisas que não necessitavam de muito esforço físico.
     Houve algo que deixou-me embaraçado, tonto e que desorganizou-me no mundo físico. Algo que eu há alguns dias atrás temia escrever acerca. Esse "algo", que deixará de ser algo com o próximo verbo escrito na terceira pessoa do singular, é alguém.

     Ele tem meus pensamentos, tem uma música escolhida por mim, tem páginas de meu bloco de anotações que falam acerca de ele, tem minha perdição nele, tem minha ansiedade... e tem o meu amor.
     Sobre a ansiedade, decidi que hei de me acalmar um pouco. Afinal, muitos momentos ainda ocorrerão. E como sou e estou dramático!

     Minha mãe chegou de viagem hoje. A sua volta foi decisiva para definir algumas coisas em mim: gosto de casa vazia, silêncio — isso não é muito novo —, da inércia, da ausência de movimentação e das paredes.

     Depois dessas definições, pude começar a indagar do meu comportamento, quando estarei milhares de quilômetros de minha casa, num quarto de brancas paredes a refletir a cor da minha alma. Algumas questões não foram solucionadas, mas sei que  escreverei acerca do silêncio e da ausência de vozes que não a minha. Sei também que não precisarei estar sob o chuveiro para escutar o som de águas a correr. O silêncio há de ser o som das águas a correr e há de ser sem corvos, pois silêncio não é preto como os rios urbanos à noite.

     Estou em dúvida se compro uma máquina datilográfica ou um Netbook para escrever quando estiver longe.

     A minha garganta agora dói muito. Dói nunca ter mostrado para ele a música que ainda é nossa, só nossa.
     Ela é de Tiê. Ela é uma outra versão de "Te Valorizo", chamada "Te Mereço" e já postada  por cá. Deleitem-se:


Até a próxima!

P.S.: fui menos enigmático??

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Um pouco da minha terra

     É um sonho de criança ser assistido por Ariano Suassuna. 

     Esse concerto armorial de Sérgio Ferraz, professor do Conservatório Pernambucano de Música, abriu-me algumas luzes e saudades também. Sinto saudades da minha terra que, provavelmente, deixarei para trás em alguns meses. Esse concerto, enquanto elucidativo, fez-me indicar minha localização geográfica como compositor.
    Apesar das palavras anteriores, não quero começar a ser tentado a escrever uma análise. Amo a noite com as análises que faço.

     É melhor ficarem com o concerto pois a tela do computador é rasa demais para mim:



Conversa comigo mesmo

— "Professor, me desculpe. É que eu estou numa fase de transição. Está tudo muito difícil e minha vida está uma correria, como sempre. O Sandro saberia bem do que eu falo. Tudo vai normalizar. Em breve..."

...

— "Meu Deus! Mãe!, nunca imaginei que era tão bom ficar assim, só. Preparar o próprio almoço é ótimo. A noite ficou mais bela, ela se tornou minha. Não me senti tão só. Vai para a casa da praia próxima semana também? A senhora precisa relaxar."

     Vou por leite no copo; penso nele. Enquanto isso, começo a imaginar uma situação na fila do Teatro.
     Como sempre, ele chegava por trás e me dá um susto com suas mãos tocando subitamente a minha espalda. Entre as conversas, nos embaraçamos ao percebermos que estamos a entrar em caminhos que revelam os segredos secretos sobre nós, escondidos com sutileza dentro de ambos. O olhar manso dele. O olhar absorto meu; rimos, então.
     Ao sentir o leite na minha mão, volto para esse mundo onde escrevo isso agora. Tenho uma ideia, repentinamente. Uma grande descoberta estava por vir. Eu, inocente que sou, nem imaginava. O destino é cruel, e, apesar de sentir fortes dores de cabeça com o aroma de algumas rosas, eu sempre imaginei que o céu era feito de pétalas brancas.
     Vejo uma gota de leite cair sobre a mesa da cozinha e a tomo com o dedo para pô-la em degustação na boca. Eis a descoberta:

— "Leite sem açúcar não é gostoso. Não gosto de leite sem açúcar."